22 de setembro de 2008

MILTON NASCIMENTO - Festival Tudo É Jazz - Ouro Preto - 2008

Saudações de Ouro Preto.

No fim de semana de 11 a 14 de setembro, aconteceu a sétima edição do Festival “Tudo É Jazz”, na bela cidade colonial. Convidado a participar, apresentando uma oficina de cinema e jazz, essa foi uma coleção de inaugurações: a primeira vez que fui a Minas, a primeira vez que fui à Ouro Preto, a primeira vez que assisti ao festival e a primeira vez que assisti um show de Milton Nascimento.

O verbo inebriar cai bem para descrever o festival mineiro. A impressão é como se o fã de jazz estivesse lendo a Jazztimes ou a Down Beat e as bandas citadas pulassem das páginas. A cabeça gira com tantas possibilidades de sons das apresentações. Sorrisos se multiplicam nas conversas antes e depois dos shows. Sim, diversos festivais estão surgindo ou se consolidando pelo Brasil (e pelo resto do mundo) e, sim, o de Ouro Preto é um dos primeiros a ser citados na lista dos melhores. Impecável nos mínimos detalhes e com uma equipe afiada, que não disfarça o prazer de transformar toda a cidade numa imensa festa. Celebração que acaba com gosto de quero mais. Tão saborosa quanto a culinária mineira.

Pois bem. Era o fim de uma tarde de domingo. O sol se põe através do céu ansioso pela noite que receberá seu cantor mais ilustre. O homenageado do festival. Olhamos o palco, montado na Praça Tiradentes, de frente. Logo atrás dele, o cimo da igreja revela um relógio com um tempo impossível, porque não vai querer passar. As pessoas tomam a praça e fazem crescer a multidão. Uma falha na luz cria um rápido atraso e aumenta a expectativa. Tudo se ilumina. Logo estamos diante de Milton. Penso que os mineiros sabem mesmo receber muito bem.

Minhas fantasias se tornam reais. Quando ouvia o “Beco do Mota”, imaginava um filme (sugerido pelas melodias) que tinha Ouro Preto como cenário. Essa música não é cantada nesse domingo, mas “Ponta de Areia” cria uma ponte mágica que liga as montanhas de Minas ao mar (e, penso, em vez do baiano, por que não o mar do meu Rio de origem). O desafio é proposto na emenda com “Entradas e Bandeiras”. Desafio aceito. Vamos à luta! Milton canta “Encontros e Despedidas” e me faz sentir numa viagem composta de memórias e estados de espírito: amigos, amores, risos, canções. A hora do encontro é também despedida. Bem, se for assim, assim será.

Wayne Shorter e Ron Carter surgem no palco. Dois quintos do quinteto de Miles mostram porque são os melhores. Simples assim (simples?). Só os jazzófilos são capazes de entender o que está acontecendo? Não creio. Uma força nos alerta e justifica essa estranha mania de ter fé na vida.

A cidade colonial, de tantas ladeiras e igrejas, nos aproxima das estrelas. Uma constelação de luzes azuis de celulares, como diamantes sobre um veludo negro, registram cada acorde criado no palco.

Milton, Wayne, Ron. Com certeza.

Olhamos em torno.

Chegamos em nós mesmos.

Estamos em casa.

Fotos: (1) Milton Nascimento e Wayne Shorter, (2) Ron Carter, Milton Nascimento e Wayne Shorter - Ouro Preto - 14/09/2009. Fotógrafa: Andrea Lion (muito obrigado!)