20 de maio de 2010

The HOUSE Is In The Doctor


Há oito anos o seriado HOUSE M.D. dá um show de roteiros.

Há oito anos ele merecia pelo menos um comentário.

O seriado pode ser dividido em duas fases. A primeira estabelecia uma espécie de "commedia dell'arte", onde um trio de médicos brilhantes orbitavam, como equipe de apoio, em torno de um médico, a figura central dos episódios, inspirado em Sherlock Holmes ("House", "Homes", percebem?) Afinal de contas, Conan Doyle baseou sua personagem na figura do seu professor de medicina, Dr. Joseph Bell, que tratava os diagnósticos com apuros de observação para além do genial. Assim é Gregory House. Um gênio médico dotado de uma história trágica: após sofrer um "enfartamento" na perna direita, essa precisava ser amputada. Na dor da alma e da carne, Greg optou por ser colocado em coma induzido. Sua esposa, sabendo que ele jamais aceitaria a amputação e não admitindo aquela morte em vida, deu a permissão para a retirada do músculo da coxa. O que garantiria a perna (tornada quase inútil), dores lacinantes e o uso constante de vicodin para lidar com elas. O casamento acabou e House passou a atacar as doenças como inimigos pessoais e extravasar uma misantropia agressiva que, apesar de engraçada, revelava o mais profundo desespero. Como Holmes, ele também possui o seu Watson, aqui chamado de Wilson, que, sintomáticamente, é oncologista.

A segunda fase é o fim do trio de apoio e a reformulação da estrutura da série. Ela fica mais próxima da novela. Alguns consideram essa mudança uma perda. Talvez. Mas os roteiros, afiados como bisturis, continuavam oferecendo inteligência e ótimas caracterizações na medida certa.

A série encerrou sua oitava temporada esse mês. Não vamos tratar de detalhes aqui. Apenas recomendamos que, aos que não conhecem (será possível? Segundo pesquisas "House M.D." é a série de maior audiência no mundo), que assistam aos poucos. Apreciem cada episódio como contos e romances de Holmes. Com diversão e prazer.

Esse comentário surge, porque uma nova amiga, fã da série, me escreveu no Facebook observando que a possibilidade de um final relativamente feliz não existe em "House M.D.". O que, pelo o que foi descrito acima, faz bastante sentido.

Refleti que talvez não seja esse o caso e gostaria de compartilhar essa reflexão aqui no The Bystander.

Afirmo que essa possibilidade existe, sim. Esse é o ponto que se busca. A metáfora da medicina é a procura da cura. Seja do que for. "House M.D." sempre foi um seriado brilhante porque não trata (e isso pode soar surpreendente para alguns) essencialmente de questões médicas, mas sim de paradoxos filosóficos, morais e, o mais importante (como na vida), pessoais. A princípio não existe uma felicidade "definitiva" diante do permanente fantasma da morte. Contradição vital que foi magníficamente assumida no último episódio dessa oitava temporada. Logo a vida é uma permanente reconstrução das coisas, e mesmo a forte dor numa perna pode ser uma fuga medrosa (principalmente se temperada com hidrocodona e paracetamol)desse contexto. Como já foi dito: "Não é ser feliz! Mas ser livre!" Os pequenos triunfos são tão importantes quanto as tragédias.

Resumo da ópera: House é formidável.